Por Adelson Vidal Alves
A história da cidade de Volta Redonda está ligada diretamente com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a partir de 1941. Para muitos, é aqui que começamos a falar historicamente da “cidade do aço”. No entanto, o território que ocupa o município tem uma história que remonta o período colonial, e tem como grande ponto de partida a primeira metade do século XVIII, especialmente o ano de 1727, quando os jesuítas – membros da Ordem religiosa fundada pelo Padre Ignácio Loyola -,resolveram percorrer a serra para demarcar a fazenda de Santa Cruz, ou quando o governador do Rio de Janeiro, Luís Vahia Monteiro, ordena a abertura da estrada para São Paulo. Até então, nossa região era praticamente ignorada.
As terras de Volta Redonda começaram a ser realmente colonizadas nos últimos anos do século XVIII. Neste momento, a produção do ouro entrara em crise, e muitos dos colonos vieram de Minas Gerais e aqui ficaram. Neste período, a região serrana do sul fluminense era ocupada por índios puris e coroados.
Os novos colonos que chegavam por conta da “febre do café”, ajudam a explicar o surgimento de importantes fazendas, como a Fazenda de Bom Retiro e a Fazenda de Três Poços.
O progresso da região começa em 1864, com a inauguração do trecho ferroviário da Estrada de Ferro Dom Pedro II até Barra do Piraí. Depois do inicio de relativa prosperidade, vinte e quatro anos depois, um fato histórico abala o progresso regional. Em 13 de Maio de 1888 a princesa Isabel, então na regência do país, assina a Lei Áurea, que põe fim a escravidão no Brasil. Volta Redonda que se desenvolvia em meio aos cafezais e a experiência mineira, conhece a decadência causada pelo abandono dos escravos, agora libertos, que deixavam as lavouras e levavam os fazendeiros à falência. Contudo, é bom destacarmos que Volta Redonda, até aqui, jamais passou de um povoado sem grande destaque. Destaque este, que vai ganhar a partir da primeira metade do século XX, quando um acordo político estabelece no município um dos pontos iniciais da industrialização nacional, a criação da já citada Companhia Siderúrgica Nacional.
A criação da CSN
Até o inicio do século XX Volta Redonda era apenas um distrito do município de Barra Mansa, na verdade, o oitavo distrito, Santo Antônio de Volta Redonda. O que se conservou dele são fazendas e também a chaminé do antigo Engenho de Ardente, construída em 1903. Ela fazia parte de um engenho de cana que fabricava açúcar e aguardente. Em 1965, depois de o local ter se transformado na “Sociedade de Laticínios Santa Cecília Ltda”, teve suas instalações demolidas para a construção do Viaduto Nossa Senhora das Graças.
Em 1941, Volta Redonda é agraciada com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional. A escolha da cidade, segundo pesquisadores como Waldyr Bedê em seu livro “Volta Redonda na Era Vargas” se deu “Graças à poderosa influência do então interventor do Estado do Rio de Janeiro (...) visto que contraria consideráveis conveniências técnicas”.
O fato é que em 9 de abril do citado ano a usina começa a ser construída. O Brasil e os Estados Unidos lutaram no mesmo lado na Segunda Guerra Mundial, contra as potências do eixo. O acordo entre Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, com os nossos vizinhos do Norte, resultou em uma das grandes siderúrgicas do continente, dentro de interesses estratégicos que levaram os norte-americanos a fornecer seu apoio fundamental na construção da Fábrica.
A CSN foi erguida por vários braços anônimos, operários identificados com o pássaro arigó, voando longe para realizar seus sonhos. Eles traziam em suas bagagens a realidade da pobreza, do analfabetismo e de tantas outras mazelas sociais que atingiam e ainda atingem o povo brasileiro. Eles se alojaram em situações precárias, careciam de condições de higiene minimamente dignas, alimentavam-se no próprio local de trabalho com refeições trazias pelas “Amélias”, furgões de transporte que faziam alusão a canção de Mario Lago.
Paralelamente a construção da Usina, construía-se a cidade operária. A empresa implanta uma escola profissional, com vistas a profissionalizar os trabalhadores, mais tarde batizada de Escola Técnica Pandiá Calógeras (ETPC).
Entre 1946 e 1948 a Siderúrgica começa seu funcionamento, até operar na sua totalidade. A partir de então, muda-se toda a realidade social e econômica de um território que abrigava alguns poucos milhares de habitantes e agora estava se inserindo na industrialização brasileira.
A emancipação de Volta Redonda: o nascimento de uma cidade
A aspiração emancipacionista do território de Volta Redonda começa ainda no período imperial. Em 1874 seus moradores pleitearam a elevação do povoado à categoria de freguesia. Mas foi na metade do século XX que é dado o inicio à campanha emancipacionista que geraria a “cidade do aço”. Em 1950, Lucas Evangelista de Oliveira Franco, na Loja Maçônica Independência e Luz II, defendeu a separação de Volta Redonda do município de Barra Mansa. O deputado de Angra dos Reis na Assembléia Legislativa Fluminense, Moacir de Paula Lobo, chegou a propor um projeto de criação de Volta Redonda, que não obteve sucesso.
O movimento emancipacionista, contudo, ganhou as ruas em 1951, e por conta disso, sofreu retaliação de parlamentares barra-mansenses, que tentaram inviabilizar o sucesso da separação. A iniciativa, porém, não funcionou. A luta emancipacionista ia ganhando aliados, um deles de grande destaque e prestígio, o influente Sávio Gama, a quem muitos tratam como o reforço econômico do movimento.
Há de se destacar também o trabalho da imprensa, caso do periódico “Revérbero Autonomista Volta-Redondense” do Jornalista José Botelho de Athayde.
Em 1952 é criado o Centro Cívico Pró-Emancipação, por iniciativa de Lucas Evangelista de Oliveira Franco. Em 1953 é aprovado o plebiscito autonomista, dentro de um trabalho árduo do deputado Vasconcelos Torres. O resultado da consulta popular foi um massacre a favor da emancipação, 2809 a favor da separação e apenas 24 contra.
Na sessão de 22 de Junho de 1954 o projeto de emancipação de Volta Redonda é apresentado na Assembleia legislativa pelo mesmo Vasconcelos Torres. Ele só foi aprovado em 17 de Julho de 1954, através da lei 2185. Nascia, enfim, o município de Volta Redonda.
Referências bibliográficas:
ATHAYDE, José Botelho: Volta Redonda e a Campanha abolicionista: Volta Redonda, Ed. Rogério Bussinger, 1962.
BEDÊ, Waldyr Amaral: Volta Redonda na Era Vargas (1941-1964): Volta Redonda, 2004.
COSTA, Alkindar Candido da: Volta Redonda ontem e hoje: Volta Redonda, 1978.