Por Gunnar Sotero Ferreira Gomes

 

Quando se fala de Volta Redonda, a primeira imagem materializada na memória humana é o aço. Liga metálica resistente, durável e flexível que marca a fabricação do sistema industrial brasileiro e, que faz parte de uma cadeia produtiva ampla, com múltiplas ramificações e capaz de gerar uma riqueza aos seus produtores.

Falar de Volta Redonda é olhar o histórico de uma cidade que surge na curva do caudaloso Rio Paraíba do Sul, que graciosamente curva-se na localidade, construindo um formato de U. Uma localidade que, povoada por índios, depois  jesuítas, após isto, brasileiros que levavam uma vida pacata, no que em 1926, tornou-se o oitavo Distrito da cidade de Barra Mansa, que a partir de 1941, entra na rota da política econômica do nacional-desenvolvimentismo do então Presidente Getúlio Vargas, transformando-se em um grande canteiro de obras, com transeuntes que migram de várias regiões: Minas Gerais, São Paulo, cidades do estado do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Nordeste, do Sul e até dos Estados Unidos da América.

De uma monótona vida em torno de fazendas e carros de boi, marcado pela produção leiteira, surge uma localidade com uma população migrante, com múltiplas características e com seus complexos culturais de várias partes. Neste momento, barracões, estalagens, casas, acampamento, hotel, ruas, praças são abertas, assim como, a Usina ganha forma e emerge das terras planas banhada pelo rio. Pessoas que, muitas tem seu nome registrado apenas em livros de contabilidade para o ordenado, mas que, marcaram a localidade não apenas com seu trabalho, mas com a construção de uma cultura local múltipla, inclusiva e plural, transformando a cidade que emancipasse em 1954, uma cidade cultural.

 

CULTURA - UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO

Quando falamos de cultura, não se trata da prática de conhecimento, mas sim, de tudo que o homem produz. Desta maneira, segundo o antropólogo Roque Laraia, cultura é um conceito antropológico, próprio do ser humano, variável de sociedade em sociedade e dinâmico. Trata-se, de acordo com Laraia (2006) de um conceito que não está engessado a um local, ou espaço físico, variadas expressões culturais podem ocorrem em um mesmo espaço, conferindo força e dinamismo a cultura.

Isto mostra que o sistema cultural, por está em constante mudança, marca períodos e épocas diferentes, mostrando que o homem é um ser adaptável, inovador e criativo. Neste sentido, a cultura é o nosso objetivo relacionado a Volta Redonda, pois, existem poucas produções relacionadas a analisar a produção cultural do município, uma vez que os estudos historiográficos, sociais e políticos buscam preencher lacunas sobre a economia, formação da classe operária e múltiplas realidade locais, reduzindo assim, olhares para a produção cultural, objeto de nosso trabalho.

Um dos fatores impactantes é que, por se tratar de um local que sempre recebeu pessoas de vários locais do Brasil e do mundo, a observação cultural sempre foi negligenciada. Um olhar mais detalhado nas expressões, fundações, organizações, produções, artistas e destaques culturais de nível, local, regional, nacional e internacional sempre foi pouco difundido em nosso município, promovendo um reducionismo analítico e não valorizando a história cultural. E, por se tratar de uma localidade com multiplicidade étnica, a multiplicidade cultural apresenta-se como um fator de construção identitária. É neste sentido, que busca-se tecer observações sobre a cultura local, valorizando e produzindo significados sobre este conceito, visando solucionar uma lacuna no campo historiográfico e, principalmente, abrindo caminhos para futuras abordagens sobre o tema.

 

CULTURA MATERIAL E IMATERIAL DE VOLTA REDONDA

Explicar a diferença entre cultura material e imaterial, é imperativo para o prosseguimento na compreensão de como a cultural volta-redondense se formou e, ainda se forma, em meio ao século XXI. Por cultura material, compreende-se a referência a invenções de variadas formas, artefatos que resultem do uso de tecnologia, isto é, que foram construídos pelo homem. E que, por cultural imaterial, os hábitos, ações, aptidões, significados, crenças, em suam, que são praticados pelo homem. Ou seja, enquanto a cultura material trata-se do que o homem fez e faz, utilizando diferentes materiais, como prédios e artefatos, a cultura imaterial se refere a hábitos praticados, como a festas populares, músicas e danças. (MELLO, 2001)

Esclarecido a diferença entre a cultura material e imaterial, pode-se observar que quando percorre-se as ruas da cidade de Volta Redonda, muito ao contrário que muitos pensam, que Volta Redonda não tem cultura ou que, a cidade não tem memória, trata-se uma inverdade. A cidade do aço é impregnada de elementos culturais que possuem significados e dão significado ao local, gerando em seus cidadãos diferentes aportes culturais que contribuem para a formação da identidade volta-redondense. Neste sentido, pode-se apresentar diferentes locais e práticas, que conferem à cidade uma pujança. Comecemos pela cultura material.

 

A MATERIALIDADE CULTURAL EM VOLTA REDONDA

Para isto, começamos a analisar alguns bairros da cidade que possui diferentes formas de expressões culturais na cidade. Por parte da cultura material, pode-se selecionar algumas localidades como os bairros: Vila Santa Cecília, Bela Vista, Sessenta, Aterrado, Niterói, Jardim Amália, Santa Rita do Zarur, São João Batista, entre outros. Nestas localidades, temos pontos destacáveis de cultura material.

Um dos primeiros pontos que destaco é ainda a presença de sedes das fazendas que compuseram o território distrital, anterior ao período da emancipação e posteriormente, com pequena funcionalidade ou sendo reestruturado para outras atividades. Ainda possuímos no município as sedes das fazendas Santa Cecília, Guarda Mor, Três Poços, São João Batista e São Thiago. Destas as mais bem preservadas são Santa Cecília, em posse da CSN, de acesso restrito e a de Três Poços, administrada pela Fundação Oswaldo Aranha-FOA e além de preservada utilizada em atividades universitárias. Dentre estas, a Três Poços, foi alvo de um livro, que deixarei indicado nas referências. Destas sedes, a da Guarda Mor abriga o restaurante Casarão. As sedes de fazenda, em sua maioria possuem o estilo neoclássico, muito utilizado na época do Brasil Império. Sendo que várias sedes ou foram demolidas ou sofreram com a ação do tempo e vieram a ruir.

Estas sedes representam o período agrário da cidade, pouco conhecido, porém necessário para conhecermos a origem do município. Além destas sedes, destaca-se como construções religiosas as igrejas de Santo Antônio, no bairro Niterói, que não é a capela original. A original foi demolida e existe uma fotografia desta, no livro de João Batista de Athayde, referenciado como ATHAYDE, 2004. A igreja de Santa Cecília, na Vila Santa Cecília, fundada em 1943 e tombada como patrimônio histórico-arquitetônico do município, em 1985 (IBGE, 2020). Além destas fontes de cultural material, cabe a citação dos prédios das igrejas Protestantes Assembleia de Deus, fundada em 1943 e inaugurou o prédio, em 1958, que hoje faz parte do patrimônio histórico e material do município, próximo a estação Rodoviária, e da Igreja Presbiteriana do Brasil, fundada em 1963, na antiga rua 207, hoje Carlos Chagas.

A construção material das sedes de fazendas e templos religiosos, seguiam padrões de época, retratando características e semelhanças e formando assim, uma identidade que os liga a outras construções no período. Um exemplo disto encontra-se no estilo usado em fazendas seguirem as características neoclássicas nas casas de vivendas, mostrando assim, sua importância e significando o poder político e econômico que seus proprietários possuíam.

A Vila Santa Cecília, por sua posição geográfica concentra uma grande quantidade de exemplos de cultura material que tornaram-se patrimônio cultural do município. Um exemplo é o memorial Zumbi dos Palmares, que é um espaço de exposições e eventos, fundado em 1 de junho de 1990 e tombado como patrimônio material do município em 1992. O local abriga um anfiteatro e uma área de exposição, onde ocorre diversificados eventos culturais da cidade. Se observarmos as grades que o cercam, nota-se elementos da religiosidade e simbologia das religiões de matriz africana, demonstrando que o espaço, para além de possuir uma representatividade de luta e resistência do movimento negro da cidade, transmite valores culturais africanos, apontando para a luta que o povo negro desenvolve para sua afirmação e identitária.

Outro exemplo de materialidade na Vila Santa Cecília é o cinema 9 de Abril, localizado na rua 14, o cinema é um dos maiores da América Latina, com 1505 cadeiras, em dois andares. Trata-se de um cinema de rua, um das poucos em atividade no estado. Em 1985 foi tombado como patrimônio cultural do município e estado pelo INEPAC. Para além de filmes, faz-se em suas dependências apresentações de teatros, formaturas, apresentações musicais, dentre outros. Não se pode furtar a citação do famoso Cine Poeirinha, que localizava-se na rua 33, do mesmo bairro, que deixou de funcionar. Também era uma sala de rua. Hoje a cidade possui inúmeras salas cinematográficas em shoppings.

O Grêmio Artístico e Cultural Edmundo Macedo Soares e Silva, o GACEMSS, é uma das primeiras organizações culturais da cidade. Fundado em 1947, com um departamento teatral e atividades relacionadas as artes cênicas, hoje além de possuir duas salas de espetáculos, também apresenta filmes e outras atividades culturais da cidade e do estado. (ATHAYDE, 2004).

Além do GACEMSS, a Vila Santa Cecília tem em seu conjunto arquitetônico a Praça Brasil, construída em 1954 e inaugurada em 1957, é uma das maiores praças com elementos históricos do Brasil, sendo composta por obras do artista Leão Veloso, com obras que homenageiam a siderurgia e os trabalhadores, possui o obelisco centrar em alto-relevo, retratando cenas da fabricação do aço e uma das maiores estátuas de Getúlio Vargas.

Além da praça Brasil temos a praça Juarez Antunes, uma praça que é o símbolo da luta operária de Volta Redonda e do Brasil. Local imortalizado por fotos e reportagens que marcaram a história das lutas da classe operária do município, dentre elas destaca-se a greve de 1984 e a greve de 1988. A última, a greve de 1988 é a mais conhecida por ter paralisado a cidade e o país, durante o governo Sarney, que autorizou a ocupação da Usina por tropas militares com seus carros de combate e fuzis em mãos.

Nesta praça tem-se dois símbolos de lutas do município: o memorial 9 de novembro, assinado por Oscar Niemeyer que homenageiam os operários William Fernandes Leite, Valmir Freitas Monteiro e Carlos Augusto Barroso, mortos em confronto com as forças militares. O monumento foi implodido e Niemeyer se recusou a construí-lo, sendo reerguido posteriormente. Além deste ícone, a praça abriga em tamanho natural a estátua de Dom Waldir Calheiros, bispo emérito da diocese Volta Redonda-Barra do Piraí, que lutou pelos pobres e operários, se colocando ao lado do povo, em momentos de opressão política e ideológica, sendo retratado em um documentário pelo historiador Erasmo José da Silva como sacerdote vermelho. Cabe ainda a citação que o mesmo historiador, coordena o Coletivo 9 de Novembro- centro de referência e memória à luta da classe operária do município.   

Além disto, temos na encruzilhada da Vila Santa Cecília com o bairro Sessenta, a Escola Técnica Pandiá Calógeras. Um centro de formação técnica fundado em 1944 com objetivo de formar mão de obra técnica para atuar na Companhia Siderúrgica Nacional, sendo pioneiro no ensino técnico do município. A formação literária de Volta Redonda, passa por suas bibliotecas, sendo que de 1942, a biblioteca local, fundada pela CSN, de 1947 a Biblioteca Filatélica de Volta Redonda; a Biblioteca Comercial Machado de Assis, de 1946; a Biblioteca Edmundo de Macedo Soares e Silva, de 1948; e a Biblioteca do Círculo Operário de Volta Redonda, de 1947. (ATHAYDE, 2004).

Além destas bibliotecas, em 1955, foi fundada a que possui a maior atuação até então, a Biblioteca Municipal Raul de Leoni, localizada na Vila Santa Cecília. Junto a ela, se encontra também o espaço de artes Zélia Arbex, local que serve de galeria de arte e exposições artísticas, administrada pelo município que promove inúmeras amostras culturais plásticas. Sendo um dos poucos na região com esta finalidade. Tem-se também o Clube Foto Filatélico de Volta Redonda, fundado em 1943, com várias atividades culturais que possui um acervo fotográfico vasto e histórico.

Para além deste grêmio, a cidade possui vários clubes que já estiveram ou ainda se encontram em atividade, tais como: Clube dos Funcionários da CSN, Clube Umuarama, Clube Náutico, Clube Comercial e o Aero Clube. Este último, fundado em 1943, chegou a abrigar duas pistas para pousos e decolagens, com curso de formação de pilotos e torre de controle, com hangares e aviões. Fundado por Macedo Soares, Paulo César Gomes Martins, o Capitão Edgard Magalhães da Silva, entre outros, possuiu muitas atividades aéreas, chegando a receber o presidente Juscelino Kubitschek e Richard Nixon, então vice-presidente dos Estados Unidos da América. Hoje, o Aero Clube não funciona mais como clube de pilotagem, cabendo apenas atividades musicais e recreativas aos associados. (ATHAYDE, 2004).

Outro clube de destaque é o Clube dos Funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional, mais conhecido como clube dos funcionários. Uma agremiação fundada em 1942, com objetivo de recreação e esportes, foi idealizado por Milton Guanabara, Demétrio Bouéri, Éver da Silva e Carlos Augusto de Campos, com objetivos de abarcar os funcionários da CSN, hoje administra o Recreio do Trabalhador, uma ampla área de práticas esportivas, além de executar inúmeras atividades culturais como shows com artistas nacionais e internacionais. (COSTA, 1988).

Outro fator destacável é a chaminé. Símbolo da cidade, incrustrada entre a linha férrea, o viaduto e a praça que lhe acolhe, pertenceu a um antigo Engenho de Açúcar, ali localizado. Construída por José Rodrigues Peixoto, em 1903, a torre centenária também pertenceu a Sociedade de Laticínios Santa Cecília LTDA, a partir de 1925, por esta sociedade ocupar as antigas instalações do engenho. Em 1965, com a construção do viaduto Nossa Senhora das Graças, o prefeito Pio de Abreu, manteve-a por considerar um marco histórico municipal, sendo esta tombada como patrimônio histórico municipal, em 1985. Dos seus 40 metros de altura, é impossível não notar sua presença, marcando a história industrial da cidade. (CRAVO, 2003)

Símbolos arquitetônicos do município, o Palácio 17 de Julho- sede da prefeitura, no Aterrado; o Escritório Central, Vila Santa Cecília; o Colégio Getúlio Vargas-Laranjal; o Colégio João XXIII, Retiro; e o Hotel Bela Vista, Bela Vista, possuem semelhanças arquitetônicas voltadas para funcionalidade, com traços modernos, marcado por uma arquitetura de ângulos retos e equacionados, distribuídos e sólidos, marcas da influência norte-americana na cidade, que hoje, podem fazer parte do patrimônio histórico material da cidade.

O bairro Sessenta, além de comportar uma igreja com uma construção modernista, possui na praça Monte Castelo, o Memorial dos Ex-Combatentes de Volta Redonda. Um local que abriga um museu dos Ex-combatentes que lutaram na Segunda Guerra Mundial, conhecidos como os pracinhas. Os soldados da FEB-Força Expedicionária Brasileira, serviram na Itália, junto ao V corpo do Exército dos Estados Unidos da América. Cabe a ressalva que muitos dos ex-combatentes não são nascidos no município, porém, com o retorno da guerra, em 1945, vieram trabalhar na cidade, adotando-a e criando vínculos pessoas e culturais com a cidade, marcando assim a localidade. Nesta praça pode ser visto um avião, canhões e uma mina naval, além de um pracinha que sempre fica por ali.

Da cultura material, a cidade apresenta um traço que varia entre o neoclássico do café com os ângulos retos modernos, dos prédios do período pós emancipação. Assim, a identidade volta-redondense é marcada por elementos do passado e do presente, mostrando sua relação com a funcionalidade, marcando a cidade que sabe ser transitório, sem esquecer do passado cafeicultor e leiteiro, que se apropria do modernismo que o aço lhe impõe.

 

IMATERIALIDADE- DO AÇO AO CLÁSSICO: CULTURA IMATERIAL DE VOLTA REDONDA

Quando se olha para Volta Redonda e observa-se a estrutura da Companhia Siderúrgica Nacional e suas dimensões, não se mensura a capacidade cultural que a cidade possui, multiplicada em milhares e milhares de pessoas, que vem e vão, transitando pela urbe moderna, com um complexo multicultural que faz parte da história local. Neste sentido, separar da seguinte forma, primeiro, abordaremos artes cênicas, música clássica e popular, além das expressões culturais populares.

Nas artes cênicas, a cultura local é rica em um circuito de dança e expressões voltadas para atuação de palco. Por vários anos festivais de danças, em espaços públicos e privados foram organizados pelo poder público, como o festival de dança VR, com edição anual, o festival em média mil e quinhentos a dois mil participantes, com um público que já chegou a cinco mil espectadores. Envolvendo diversas faixas etárias, com foco na juventude, o festival apresenta um reflexo local.

Atualmente, na cidade existem diferentes organizações relacionadas a dança, como ballet clássico e contemporâneo, dança de salão, dança contemporânea, e outros estilos. Estes espaços que oferecem estas atividades, estão ligados a práticas culturais que envolvem desde a mais tenra idade aos mais idosos. Além de expressões eruditas de danças, temos também as expressões de movimentos populares, como forró, dança de salão, hip hop, Techno-dance e outros estilos. Com academias e bailes oferecendo atividades de bailes e cursos. Isto demonstra que do movimento em Volta Redonda esta arraigada na identidade local.

Quando o assunto é música clássica, a cidade do aço é um destaque. Pioneira no Brasil em projetos musicais que englobam a sociedade e a educação. Neste sentido, deve-se apontar que o projeto Volta Redonda Cidade da Música, comandado pelo professor, maestro e idealizador Nicolau Martins de Oliveira, Sarah Higino e José Sérgio Torres da Rocha, é um celeiro de músicos nacionais e internacionais. O projeto é desenvolvido na cidade, desde 1974, mantido pela Prefeitura Municipal, com seus objetivos relacionados a educação da criança e do adolescente, este projeto possui mais de 4.600 alunos, com variados grupos, como: Banda de Concerto de Volta Redonda; Coro Infanto-Juvenil de Volta Redonda; Orquestra de Cordas de Volta Redonda; Orquestra de Violinos de Volta Redonda; Orquestra de Violoncelos de Volta Redonda; Diversos conjuntos de sopro, de câmara; Ballet Educação. Bandas-Mini: Pífaro e Percussão; Banda Marcial; Coro Misto; Banda II; Orquestra II e Coro do Projeto "Volta Redonda Cidade da Música".

Com um repertório extremamente flexível, a Banda de Concerto tem um disco de vinil, o famoso LP, gravado, além de outras mídias, como vídeos e áudios em apresentações. Estes grupos musicais já atuaram em vários locais no Brasil, como a Sala São Paulo, Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Teatro Municipal de Niterói, sala de concerto Cecília Meireles, salão Leopoldo Miguez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ, dentre outros. Além destas atividades, das fileiras deste projeto saíram e continua saído músicos que se profissionalizam e atuam nas grandes orquestras nacionais, como a Orquestra Sinfônica Nacional, a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica da Petrobrás e em diversas bandas militares, além de professores universitários, músicos locais e regionais que atuam profissionalmente e como professores, multiplicando o trabalho musical e valorizando as sementes volta-redondense.

Existe também uma banda que atravessa a história de Volta Redonda, a Banda Municipal de Volta Redonda. Uma organização que encaminha para seus 40 anos de existência, tem marcado a vida local com apresentações, músicas, gravações e eventos municipais e intermunicipais. A Banda Municipal foi criada por força de decreto, em 1981, pelo então prefeito coronel Aloísio de Campos Costa, a corporação musical tem uma história recheada de fatos históricos. Apesar da longevidade, foi dirigida por três maestros: Capitão Elói José de Abreu, Gerson Costa e atualmente é conduzida por Rinaldo Cândido Galvão.

Contando com músicos da sociedade volta-redondense, hoje possui 51 componentes. Foi ligada a Secretaria Municipal de Cultura até 2017 quando, a partir deste ano, passou a ser vinculada a Fundação Educacional de Volta Redonda (FEVRE). Sua sede hoje está no Colégio Getúlio Vargas, mas já ficou por décadas no pavilhão da Cultura, na Ilha São João. Com um repertório marcado pelo ecletismo, variado entre o popular e o clássico, a banda já participou de festivais e concursos regionais, onde sagrou-se campeã.

Integrado a Banda Municipal de Volta Redonda, tem-se também o Coral Municipal de Volta Redonda, fundado também por força de lei, no ano de 1985, este grupo vem desenvolvendo apresentações locais e regionais. Com um repertório marcado também pelo ecletismo entre o popular e o erudito, apresenta-se a sociedade com regularidade. Teve como seus maestros: Helnatan Carvalho- fundador; Maria Geralda Ferreira e José de Arimatéia. Atualmente, o maestro Rinaldo tem atendido a Banda e ao Coral.

E se você pensa que para escutar frevo ou dançar precisa ir a Pernambuco, centro mundial do frevo, engana-se completamente. Em Volta Redonda, existe uma organização que lhe proporciona tal espetáculo, o Império do Frevo. Fundado em primeiro de maio, de mil novecentos e cinquenta e cinco, pelo maestro Caaraüra, compositor, arranjador, multi-instrumentista, artista plástico, poeta e o maior frevista de todos os tempos. O maestro Caaraüra é um fenômeno cultural. Conhecedor profundo da cultura nacional, desenvolve trabalhos de apresentação, musicalização, gravação de desenvolvimento do Frevo.

Presidente do Congresso Brasileiro de Frevo, há décadas lidera a produção e difusão do estilo popular pernambucano. Natural de Aliança- PE, o maestro possui mais de 300 composições em diferentes estilos de frevo, sendo que 60 gravadas, em vários cds. Por usa iniciativa a agremiação desfilava no Carnaval de Volta Redonda e no Rio de Janeiro, com orquestra e passistas. Premiado inúmeras vezes por seu trabalho, o maestro além de sua apertada agenda com frevo, fundou em 2014 a Academia de Ciências e Letras do Brasil- ACILBRAS. Que conta com diversas atividades culturais, tem membros nacionais e internacionais, como Canadá, Alemanha, Estados Unidos da América, Chile, Portugal, Angola, e em todos os estados do Brasil. Espalhada com seções pelo país, a Acilbras é uma constelação de notáveis que vem ampliando o conhecimento científico e linguístico. Um marco da cidade.

Cabe a citação ainda da Banda da Companhia Siderúrgica Nacional, conhecida como a Banda da CSN. Uma corporação musical que começou, em meados de 1945/1946, que contava com músicos formado nas fileiras dos operários da usina, que possuíam conhecimento musical e músicos egressos de bandas militares. Funcionou por décadas, tendo sua atividade encerrada por volta do ano de 2005, quando foi reorganizada dentro da fundação CSN. Teve como maestros o Capitão Franklin de Carvalho Júnior e Marcelo Jardim. Cabe a citação que na década de 1990, a banda assumiu um caráter mais profissional, abarcando em suas fileiras, músicos com formação específica em instrumentos, por universidades nacionais e apresentando-se com artistas nacionais como Flávio Venturini e Beth Carvalho.

Diante da questão musical, uma das tradições volta-redondense são as fanfarras, em suas variadas organizações. A cidade além de ser um celeiro na educação musical, também é uma referência nacional em fanfarras. Na cidade, inúmeras fanfarras se organizam ou já se organizaram, dentre eles as fanfarras dos colégios: Macedo Soares, Batista, Sesi, Guanabara, Glória Roussin, dentre outros. Nestes colégios, também já ocorreram outras organizações musicais como no colégio Nossa Senhora do Rosário, que já possuiu um coral feminino, regido pelo maestro e professor Nicolau Martins de Oliveira. Inclusive cabe uma ressalva, o maestro dirigiu as atividades do Centro Musical de Volta Redonda, fundado em 1958, que contou com membros como Leonardo Mollica, Franklin de Carvalho Júnior, dentre outros. Este centro cultural já possuiu orquestra, banda e coral. (COSTA, 1977)

E esta tradição passa por uma fanfarra laureada de premiações e sucesso, a Fanfarra da Escola Técnica Pandiá Calógeras. Uma fanfarra campeã. A fanfara e a banda da ETPC, como é conhecida, foram fundadas em 1954 e ainda encontra-se em atividade. Foi a primeira a desfilar na cidade, liderando o desfile de alunos da instituição. Possuiu os seguintes maestros: Professor Nicolau Martins de Oliveira, Professor Bragana, Professor Elizeu, Professor Almir da Silva Gregório, Mestre Chicão, Professor Helnatan Carvalho e, atualmente segue sob a batuta do maestro e professor Roterdã Lino. Campeã por 10 vezes do concurso nacional de fanfarra simples, campeã regional e local, de concursos, a organização musical é imbuída de mostrar a cultural musical, de forma criativa, somática e elevada, destacando valores em seus componentes como o trabalho em equipe, a cooperação profissional e visando o desenvolvimento individual e coletivo de seus membros.

Estas fanfarras e bandas, possui um momento singular de suas vidas, que é o desfile cívico nacional do 7 de setembro, momento em que estas agremiações vão para avenida, apresentando um espetáculo de qualidade musical e empolgante, expondo assim, profundos momentos de preparação. Cabe a ressalva, que estas organizações apresentam-se em diferentes momentos e espaços, visando a divulgação musical e cultural de seu trabalho, difundindo assim, uma característica tradicional de Volta Redonda, a música.

A música popular também possui um amplo espaço na cidade, cabe lembrar que o Império do Frevo, do Maestro Caaraüra, sempre buscou difundir na cidade e no país, este gênero popular pernambucano. Observa-se que, na cidade, já ocorreram outras organizações de frevo, tais como: os Embaixadores do Frevo, Batutas da Cidade do Aço e os Diamantes do Frevo. (COSTA, 1977).

Para além do frevo, folias de reis, são encontradas no município que organiza o encontro ou a jornada das folias de reis. Estes eventos, que tem ocorrência na Ilha São João ou no Memorial Zumbi, na Vila Santa Cecília e contam com dezenas de grupos participantes de bairros municipal. Além do encontro, que ocorre no mês de janeiro, é comum, entre os meses de dezembro e janeiro, os bairros locais como São Cristóvão, Vila Americana, Retiro, São Lucas, Santa Rita do Zarur, Santa Cruz, São Luiz, dentre outros, assistir a apresentações em casas ou espaços públicos de folias de Santos Reis ou de São Sebastião.

Além destas expressões culturais, temos ainda a presença de expressões culturais populares como: Boi Pintadinho ou como é mais conhecido como bumba-meu-boi; mineiro-pau; capoeira; maculelê, escolas de samba e blocos carnavalescos; ciranda de roda; côco; xaxado; forró; duplas sertanejas; bandas de bailes, como Casablanca e a Banda do Maestro Guerra- de saudosa memória; cateretê; caboclinhos; baião; quadrilha de festa junina e o Jongo (COSTA, 1977).

Entre as expressões culturais musicais e dançantes do município, Volta Redonda também possui uma cultura letrada, onde a erudição faz presente. Neste sentido, a produção literária é uma realidade atuante na cidade, que possui o GLAN- Grêmio Literário de Novos Autores, fundado em 1975, desenvolve atividades culturais ligado a literatura, poesia, romance, contos, dentre outros gêneros literários, sempre com o objetivo de dar visibilidade a autores locais e suas publicações. (COSTA, 1977).

Outra característica das letras em Volta Redonda é a presença de jornais, revistas, boletins e as rádios, com seus radialistas que marcaram e marcam a comunicação local. Destaca-se a extinta rádio CSN, que desenvolveu atividades radiofônicas locais para atender a sociedade local. Sua sede ainda encontra-se no alto Laranjal, bairro do município. Assim como a rádio, os jornais também tiveram sua contribuição para com a cidade. Alguns de vida efêmera, outros mais longevos. Destaca-se: o Lingote, Jornal da Cidade, Gazeta de Volta Redonda, A Cidade do Aço, Jornal do Vale, O Diário, O Espelho do Vale, o Siderúrgico, Zero Hora, dentre outros, totalizando mais 35 periódicos, de diferentes posturas publicitárias. A CSN, publicava o informativo Nove de Abril e a revista o Lingote (COSTA, 1977).

Outra manifestação cultural da cidade foi a Feira da Primavera, de organização Núcleo de Ação Comunitária-NAC. fundada em 1978, o evento era, segundo colaboração de Antônio Delgado Sesto: A Feira da Primavera foi criada baseada na Feira da Providência, do Rio de Janeiro, e tinha como meta, ajudar as instituições de nossa cidade, primeiro foi feita a 1ª Feira da Primavera, pra depois ser criado o NAC (Núcleo de Ação Comunitário), cuja o qual ficou responsável em realiza-la. Cada instituição representava um país do mundo ou um estado do Brasil, e nela se vendia comidas típicas desse lugar representado. As primeiras foram feitas na Vila Santa Cecilia, perto da Praça Brasil, na rua em frente onde hoje é a Cúria Diocesana ficava a barraca Gaúcha, que parecia até uma pequena Vila, de tantas barracas que a formavam. Com relação a Gincana, que tinha o nome de GINCANAC, as primeiras foram automobilística, para, só depois, se tornar Cultural. Tem também as da geração de 2000, que foi por volta de 2005 a 2008, que foi a época mais fraca, a onde tinha poucas equipes, dessa época são: Coringas, Furança, Tsunami, e algumas outras. Tinha a eleição pra rainha da feira, se não me falha a memória, os votos eram vendidos, e tinha a primeira e a segunda princesas, tudo era de acordo os votos que se conseguia vender, se não estou errado.

Já o colaborador João Carlos Pyrombah indicou queé preciso dividir em 3 fases: anos 1970 que aconteceu na Vila (buf buf, cras, Inhapa, TBL e outras); nos 1980 que aconteceu na Ilha e terminou em 1986 após a famosa guerra de latas entre buf buf e cras, tinha nessa época a Hollywood e outras q agora não recordo; década decada de 1990 após 10 de hiato o NAC organizou novamente a gincana com novas equipes (ey dona, pa e bola, escuderia 69 e outras). Nos anos 1970 e 1980 a gincana parava a cidade e mobilizava 3 mil pessoas em busca de cumprir tarefas e vencer!!! O lado negativo era uso abusivo de álcool e drogas, acidentes graves de trânsito; justamente isso determinou o fim das atividades.

Com as colaborações dos colegas do grupo de mídias sociais Volta Redonda Antiga, observa-se que as equipes que participavam eram: Crás, Buf Buf, Tropa Burro de Listra, Anarquia, Ey Dona- passou a se chamar Agitadona, pá e bola, escuderia 69, Inhapa, TBL, 14 Bis, Hollywood, Chiclete, Flap Flap, Máfia, Deitona, PA, Psil, Bola Cheia, TKD, Verde Novo, Três Tribos, Coringas, Xadrex, Softh, Furança, Tsunami, Zum, Chico Pinico Amarelo, "Deans" que participou em 1981 e 1982. Rivalidade mais acirrada era entre a Crás e a Buf Buf,

A gincana começou em 1978, e a última foi no ano 2000. Contava com atividades no Recreio do Trabalhador com jogos de futsal, basquete, vôlei, atividades que contavam pontos para a gincana. Ocorria também a entrada em desfile das equipes na Ilha São João, onde cada uma das envolvidas na gincana entravam com seus participantes, desfilando com bandeiras, carros enfeitados e cantando seu grito de guerra.

 

CONCLUSÃO

Volta Redonda, a cidade do aço, forjou e forja a sua cultura, não com os impactos contra o metal derretido que escorre das bacias da aciaria. Mesmo o município não possuindo uma grande extensão territorial, neste território que o rio faz uma curva, a cultura foi construída com a multiplicidade humana que formou o município. As múltiplas origens dos pioneiros do aço marcaram não apenas a construção e a emancipação da cidade, mas também a sutura identitária plural. Hall (2006)

Uma identidade que não atende a uma verticalidade autoritária, mas a uma identidade singular, baseada na multiplicidade que o ser humano pode possuir e transmitir. Isto reflete na sociedade local, uma sociedade solidária e coletiva, onde a construção da identidade é tanto simbólica como cultural. Desta maneira, a multiplicidade das identidades é um fator histórico, localizada em um tempo específico. Neste caso, a identidade volta-redondense tem no período da construção da CSN e no período após o início do seu funcionamento, uma explicação histórica, pois, da forma que a cidade atraiu e ainda atrai as pessoas com a esperança de vida e futuro, moldou sua identidade. A multiplicidade etno-geográfica das pessoas que vieram construir a usina, construiu a identidade de um município. WOODWARD IN SILVA (2009).

Portanto, a cultura volta-redondense é uma cultura ampla, múltipla, horizontal, democrática, inclusiva e democrática. Sendo a cultura a geradora de significados ao dar sentido a experiência e as tradições de um passado, o município de Volta Redonda é marcado por ser uma pujante na formação e construção de identidades locais, marcadas pelo pluralismo, pela democracia e pela aceitação do outro como um igual. Ainda que exista a desigualdade em diferentes níveis, como social, econômico, de acessibilidade e de afirmação, a identidade volta-redondense e sua construção e ressignificação mostram que a sociedade local constrói uma identidade dialogando entre a cultural e as diferentes esferas sociais presentes na cidade do aço.

 

Referências bibliográficas:

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Sites:

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https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2019/01/12/xxi-festival-de-folia-de-reis-vai-contar-com-15-grupos-em-volta-redonda.ghtml acesso em 02/06/2020

https://diariodovale.com.br/lazer/18o-encontro-de-folia-de-reis-de-volta-redonda-sera-realizado-dia-16-de-janeiro-na-ilha-sao-joao/ acesso em 02/06/2020

 

Colaborações orais: Antônio Delgado Sesto, José Carlos Pyrombah, Maestro Roterdã, Maestro Rinaldo Galvão, Maestro Caaraüra, Grupo do Facebook- Volta Redonda Antiga e todos que colaboraram com citações e indicações.

 

Gunnar Sotero Ferreira Gomes é historiador

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