Alunas e formadas pelo ‘Mulheres Mãos à Obra’ participam de seleção para 100 vagas oferecidas pela siderúrgica, graças à parceria com o governo municipal
A Prefeitura de Volta Redonda – por meio da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos (SMDH) – e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) iniciaram nesta terça-feira (11) o recrutamento de 100 profissionais oriundas do projeto “Mulheres Mãos à Obra”. O encontro foi realizado no Centro de Qualificação Profissional (CQP) Aristides de Souza Moreira, localizado no bairro Aero Clube, e teve a presença de mais de 140 mulheres, entre aquelas que já concluíram os cursos oferecidos pela iniciativa e aquelas que ainda estão comparecendo às aulas teóricas e práticas.
O acordo para realização do processo seletivo foi fechado no gabinete do prefeito Antonio Francisco Neto na última sexta-feira (7), em reunião com a gerente regional de Siderurgia da empresa, Ana Paula Gonçalves. Na primeira etapa do processo de seleção, as mulheres receberam informações sobre todas as etapas para contratação (preenchimento de cadastro, entrevista, avaliação psicológica, exame médico, entrega de documentos e efetivação).
A equipe da CSN também listou os benefícios oferecidos aos funcionários (vale-alimentação, planos de saúde e odontológico, auxílio-creche e previdência privada, entre outros), além de dicas para irem bem na seleção – entre elas, procurar tirar todas as dúvidas quanto às vagas oferecidas.
“Quando criamos o projeto, sonhávamos com dias como esse, em que tantas mulheres pudessem dar esse importante passo em suas vidas, de encontrar uma nova qualificação, e pudessem ocupar espaços no mercado de trabalho nos quais elas podem trabalhar em igualdade de condições. Nossos parabéns a todas elas, e nosso agradecimento à CSN por essa parceria”, disse o prefeito Neto.
A mulher onde ela quiser
Uma das candidatas que compareceram ao recrutamento foi Cristina da Conceição Silva Souza, 39 anos. Moradora do Belmonte, ela fez o curso de soldador de maçarico e, antes, trabalhava como manobradora no setor ferroviário; agora, espera conseguir seu primeiro emprego por meio do “Mulheres Mãos à Obra” e mostrar que o lugar da mulher é onde ela quiser.
“Diziam que esse tipo de emprego é masculino, que não é para mulher, mas a mulher pode tudo o que ela quiser. E eu falo não só de força física, mas de tudo no geral. Quer trabalhar pesado? A gente consegue trabalhar pesado. Eu trabalhava como manobradora, no trem; imagina uma mulher de 1,57 metro de altura trabalhando com o trem. Tem muita mulher que pensa ‘eu não consigo’; aí, quando você começa aqui, você pega amor, você consegue sim. Eu dou muito valor ao trabalho do soldador hoje em dia, é treino, é correr atrás, é vir às aulas, a oportunidade está aí, é só agarrar.”
Moradora do Voldac, Ana Paula Rodrigues Lemos, de 41 anos, ainda não concluiu o curso de pedreiro de acabamento, mas já se animou em buscar uma oportunidade na CSN. Ela, que ficou sabendo do “Mulheres Mãos à Obra” pelo site da Prefeitura de Volta Redonda, decidiu tentar uma nova carreira e ser mais um exemplo de que a construção civil não é um mercado exclusivo para a mão de obra masculina.
“As mulheres são mais detalhistas, e cada vez mais os empresários procuram entregar um trabalho de excelência, então a presença feminina na área de acabamento da construção civil tem crescido; achei o nicho de mercado interessante”, diz ela, que antes trabalhava na área administrativa. “Os cursos são importantes não só pela profissionalização das mulheres ou pela capacidade delas de estarem em uma grande empresa como a CSN, mas também de se engajar em outras empresas no nosso mercado da construção civil.”
Ana Paula acrescenta que o que aprendem no projeto é algo que elas podem agregar ao seu dia a dia. “Às vezes, a mulher está precisando de uma qualificação, e vale a pena investir em si, vir fazer o curso, pois o mercado de trabalho está com muitas oportunidades. Ainda que não queira trabalhar nessa área, ela vai ter um aprendizado para poder cuidar da própria casa, a gente sai daqui totalmente preparada para construir e reformar o que for necessário. Fizemos alguns mutirões entre nós mesmas para fazer alguns trabalhos nas nossas casas, o que ainda nos trouxe maior aprendizado e reforçou a amizade.”
“Estamos muito animadas com o que vimos aqui hoje, tantas mulheres animadas para colocarem em prática o que aprenderam nos cursos, poderem se estabelecer como profissionais na construção civil, ocupando o espaço a que têm direito”, pontuou a secretária municipal de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos, Glória Amorim.
Uma nova família
Elisa Odessa Borges Reis, 38 anos, é moradora do Água Limpa e vai fazer o curso de soldadora do “Mulheres Mãos à Obra”. “Muitas mulheres, hoje, são chefes de família, estão dominando o mercado de trabalho, e não existe mais essa divisão de área masculina ou feminina. A CSN é uma empresa na qual muita gente sonha em trabalhar, e nós queremos mostrar que somos capazes de fazer, tanto quanto os homens, qualquer tipo de trabalho.”
Há casos, ainda, de mulheres para quem o “Mulheres Mão à Obra” vai além da possibilidade de qualificação profissional. Jussara de Carvalho Antero, de 59 anos, é moradora do Volta Grande IV e conta que conheceu o Centro de Qualificação Profissional durante uma instabilidade emocional, pois havia perdido a mãe há pouco tempo, e o CQP se tornou uma casa de acolhida.
“Não só de ensino profissionalizante, mas também de amizades, de cuidados. Então eu tenho isso aqui como uma família, me tirou daquele momento em que eu me encontrava; aqui eu me encontrei e continuo a crescer”, diz ela, que já terminou o curso de eletricista e agora está próximo de concluir o curso de soldadora. “Já pude aplicar dentro da minha casa e de alguns conhecidos o que aprendi como eletricista”, acrescenta, lembrando que, se for contratada pela CSN, será a primeira mulher da família a trabalhar na empresa, seguindo o exemplo de alguns tios que foram funcionários da siderúrgica.
O diretor do Centro de Qualificação Profissional, Eiji Yamashita, lembrou que um dos objetivos do CQP é dar oportunidade a essas mulheres de se tornarem grandes empreendedoras não apenas no lar, mas também no mercado de trabalho.
“Que elas possam buscar a sua independência e, principalmente, seus sonhos, e nós estamos fazendo tudo para que elas tenham todo o incentivo para não desistirem. Essa é a nossa grande missão: que elas sejam felizes.”
Fotos de Cris Oliveira – Secom/PMVR.