Assunto foi debatido durante conferência promovida pelo governo municipal no Hotel Bela Vista
O programa de Saúde Mental de Volta Redonda passou por uma reestruturação no último ano, com a contratação de profissionais e a reforma nas estruturas físicas das unidades para melhorar a assistência e o acolhimento de pacientes. As medidas ocorrem em conformidade à Lei de Reforma Psiquiátrica, que deu fim aos manicômios, por exemplo. Na última semana, dando sequência aos avanços, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), com apoio do Conselho Municipal de Saúde Mental, promoveu uma conferência sobre o tema. Entre os desafios levantados durante o encontro, realizado no Hotel Bela Vista, está o fim do estigma que persiste com pessoas que possuem doenças mentais e a promoção do atendimento a quem precisa.
A secretária de Saúde, Maria da Conceição de Souza Rocha, disse que a saúde mental é muito mais do que a oferta de psicoterapia. Segundo Conceição, para a política pública de saúde mental acontecer é preciso um trabalho pautado nos determinantes sociais. Para ela, a saúde mental é conquistada a partir do acesso da população à alimentação, educação, saúde, transporte público, moradia, renda e etc.
“Precisamos olhar o cidadão e não sintomas. É preciso desestigmatizar a loucura na sociedade. Precisamos de um maior investimento na estratégia de redução de danos, potencializando os CapsAD (Centro de Atenção Psicossocial ao usuário de Álcool e Outras Drogas), o 'Consultório na Rua' e outros planos territoriais para impedir o avanço da comunidade terapêutica e tratamentos morais que preconizam abstinência para o público que faz uso abusivo de álcool e outras drogas”, opinou.
Conceição lembrou que para seguir avançando no setor, é preciso evitar retrocessos como a cultura dos manicômios com o aprisionamento de pessoas de forma compulsória e sem critério, onde os pacientes eram submetidos a maus-tratos e com consentimento da família.
“Quando resgatamos a recente história de violência e violações nos hospícios, vemos que os corpos que predominavam nesses locais eram negros, com inúmeras barreiras econômicas e sociais: mulheres violentadas ou que os maridos não queriam mais como suas companheiras, gestantes adolescentes, mulheres abusadas sexualmente, pessoas homoafetivas ou que não atendem a norma da heteronormatividade, ou com algum tipo de deficiência, transtorno e distúrbio”, afirmou.
Impactos da pandemia
A coordenadora do programa de Saúde Mental, a médica Suely Pinto, lembrou os impactos na saúde mental da população durante e o pós-pandemia de Covid-19. Ela frisou o aumento na demanda por atendimento psiquiátrico e a necessidade do governo municipal estar estruturado para poder atender quem precisa do SUS (Sistema Único de Saúde).
“Hoje estamos vivendo uma expansão do uso de álcool e outras drogas. Para o álcool não há uma dose segura. São momentos muito difíceis. A pandemia foi melhorando e os atendimentos com a saúde mental foram triplicando. Não é só uma questão de Volta Redonda, mas do mundo. A necessidade de atendimento na Saúde Mental está muito grande. Antigamente, a pessoa dizia: 'Não vou ao psiquiatra porque não sou maluco', mas hoje em dia isso não acontece. O sofrimento com a pandemia foi tão grande que as pessoas aceitam e vão ao psiquiatra. Então as pessoas que necessitam deste atendimento precisam que a rede pública esteja estruturada”, observou Suely.
Durante o evento, foram apontadas melhorias a serem adotadas para fortalecer a rede de atendimento da Saúde Mental de Volta Redonda como o fim da fragilidade dos vínculos empregatícios, que geram alta rotatividade de profissionais, prejudicando os vínculos com usuários; ampliação de ações de matriciamento, promovendo qualificação e potencialização do trabalho intersetorial; compra de materiais permanentes para realização de oficinas, grupos e atividades internas e externas; e a renovação e ampliação da frota de veículos da Saúde Mental.
A secretária de Saúde citou alguns retrocessos na luta antimanicomial, como a portaria 3588/2017, que dá incentivo financeiro para hospitais gerais que têm leitos psiquiátricos.
“Este financiamento só acontecerá se a taxa de internação psiquiátrica for igual ou maior a 80% ou mais, o que estimula a internação. Assim como o decreto 9761/2019 que estimula a cultura da abstinência, colocando a como estratégia central e as comunidades terapêuticas como instituições de internação e tratamento. Desvalorizando a política de redução de danos e traz um viés religioso para o campo do cuidado. Retrocesso este que acontece também na cidade de Volta Redonda, quando houve a desestruturação dos serviços. É preciso investimentos. Tem um ano que estamos tentando resgatar esses serviços e oferecê-los de forma digna à população”, enfatizou Conceição.
Foto: Cris Oliveira/Secom PMVR